Corrosões
que estruturam
Para Goethe, um dos
caminhos possíveis da criação poética é a transformação da dor num poema. Este
processo está presente na obra de artistas de diferentes gêneros, da música à
literatura, da dança às artes plásticas. E está manifesto na obra recente de
Lílian Arbex, uma mineira de Juiz de Fora que vem se dedicando há anos à
criação no campo das artes visuais, sobretudo no segmento da aquarela e da
gravura, com incursões na seara da cerâmica, da encáustica e das técnicas
mistas.
A artista vivenciou e
superou um processo degenerativo do tecido ósseo dos joelhos e dos
tornozelos que provoca dor e limita seus movimentos. Este evento levou Lílian
Arbex a refletir e a criar a série de obras Corrosões, que compõe esta
mostra.
Nesses trabalhos, Lílian
aborda o tema da deterioração a partir de dados autobiográficos. No sentido
mais corrente, a corrosão é uma deterioração de materiais, sobretudo metálicos,
por ação química ou eletroquímica do meio ambiente, que dá origem a produtos de
corrosão e libera energia. Mas a corrosão também pode acontecer no interior do
corpo humano, ao nível dos ossos, por exemplo, em situações de vascularização
insuficiente ou nula, quando os elementos destruidores da estrutura óssea são
mais eficientes do que os que a reconstrói.
Com seus trabalhos atuais,
Lílian sublima suas próprias corrosões. Um exercício que, segundo confessa,
leva ao questionamento de diferentes tipos de degenerações que produzem efeitos
indesejáveis mas que, também, podem conduzir a novos caminhos e ao encontro de
iluminações. Mediante essas técnicas mistas e calcogravuras, que tendem a
durar muito e que poderão até nunca desaparecer mediante utilização de
procedimentos tecnológicos, ela almeja transmitir ao espectador sensações de
estranhamento, reveladoras da fragilidade do corpo humano.
Esses trabalhos,
criados com aquarela e fogo sobre madeira, gravações com matriz de
metal, técnicas mistas sobre papel e acrílica sobre madeira, são reveladores
de boa técnica e de conceitos significativos, envolvendo coração e mente.
Com eles, Lílian Arbex demonstra, mais uma vez, que é possível sim
transformar dor em poesia - em seu caso poesia visual - e que “a arte é
longa, a vida é breve”, segundo nos ensina Hipócrates em seus Aforismos.
Enock Sacramento
Crítico de arte, membro da Associação Paulista de Críticos de Artes,
Associaçao Brasileira de Críticos de Arte e da Association Internationale des
Critiques d’Art
Corrosões (A-1)
Corrosões (A-2)
Corrosões (A-3)
Corrosões (A-4)
Corrosões Diárias - Instalação
Corrosões (I-1)
Corrosões (I-2)
Corrosões Ex-Votos (E-1)
Corrosões Ex-Votos (E-2)
Corrosões (GM-2)
Corrosões (GM-1)
Corrosões (I-3)
Um comentário:
Chocante!!!...
Causa uma forte sensação!...
Gostei!...
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