domingo, 18 de agosto de 2013

Série Corrosões

Corrosões que estruturam

Para Goethe, um dos caminhos possíveis da criação poética é a transformação da dor num poema. Este processo está presente na obra de artistas de diferentes gêneros, da música à literatura, da dança às artes plásticas. E está manifesto na obra recente de Lílian Arbex, uma mineira de Juiz de Fora que vem se dedicando há anos à criação no campo das artes visuais, sobretudo no segmento da aquarela e da gravura, com incursões na seara da cerâmica, da encáustica e das técnicas mistas.

A artista  vivenciou e superou um processo degenerativo do tecido ósseo  dos joelhos e dos tornozelos que provoca dor e limita seus movimentos. Este evento levou Lílian Arbex  a refletir e a criar a série de obras Corrosões, que compõe esta mostra.

Nesses trabalhos, Lílian aborda o tema da deterioração a partir de dados autobiográficos. No sentido mais corrente, a corrosão é uma deterioração de materiais, sobretudo metálicos, por ação química ou eletroquímica do meio ambiente, que dá origem a produtos de corrosão e libera energia. Mas a corrosão também pode acontecer no interior do corpo humano, ao nível dos ossos, por exemplo, em situações de vascularização  insuficiente ou nula, quando os elementos destruidores da estrutura óssea são mais eficientes do que os que a reconstrói.

Com seus trabalhos atuais, Lílian sublima suas próprias corrosões. Um exercício que, segundo confessa, leva ao questionamento de diferentes tipos de degenerações que produzem efeitos indesejáveis mas que, também, podem conduzir a novos caminhos e ao encontro de iluminações. Mediante essas técnicas mistas  e calcogravuras, que tendem a durar muito e que poderão até nunca desaparecer mediante utilização de procedimentos tecnológicos, ela almeja transmitir ao espectador sensações de estranhamento, reveladoras da fragilidade do corpo humano.

Esses trabalhos, criados  com aquarela e fogo sobre madeira,   gravações com matriz de metal, técnicas mistas sobre papel e acrílica sobre madeira, são reveladores de  boa técnica e de conceitos significativos, envolvendo coração e mente. Com eles, Lílian Arbex demonstra, mais uma vez,  que é possível sim transformar dor em poesia - em seu caso poesia visual -  e que “a arte é longa, a vida é breve”, segundo nos ensina Hipócrates em seus Aforismos.
Enock Sacramento
Crítico de arte, membro da Associação Paulista de Críticos de Artes, Associaçao Brasileira de Críticos de Arte e da Association Internationale des Critiques d’Art






 Corrosões (A-1)


 Corrosões (A-2)


 Corrosões (A-3)


 Corrosões (A-4)



 Corrosões Diárias - Instalação





 Corrosões (I-1)




 Corrosões (I-2)




 Corrosões Ex-Votos (E-1)



Corrosões Ex-Votos (E-2)




Corrosões  (GM-2)




Corrosões  (GM-1)





 Corrosões  (I-3)



Corrosões  (GM/E)




Corrosões  (GM-3)



Impressões  (GM-4)




Corrosões  (A-GM)



Um comentário:

MaRuth disse...

Chocante!!!...
Causa uma forte sensação!...
Gostei!...